Ensino Superior em ²Ñ´Çç²¹³¾²ú¾±±ç³Ü±ð: Entrevista com Lourenço do Rosário
Lourenço do Rosário, Reitor da Universidade Politécnica, fala sobre suas últimas actividades e compartilha sua visão para a Politécnica e ²Ñ´Çç²¹³¾²ú¾±±ç³Ü±ð para 2016.
Entrevista com Lourenço do Rosário, Reitor da Universidade Politécnica
O senhor acaba de voltar de uma viagem a Havana. Essa experiência inspirou alguma mudança pedagógica na Universidade Politécnica?
As universidades moçambicanas, incluindo a Universidade Politécnica, aceitaram, em peso, o convite feito pelas autoridades cubanas para ir a Havana. ²Ñ´Çç²¹³¾²ú¾±±ç³Ü±ð foi representado por 40 delegados de praticamente todas as grandes universidades do paÃs. Foi uma semana de intensos debates sobre várias matérias, como pesquisa, extensão, docência e relações com a comunidade. O elemento fundamental dessas discussões foi o desenvolvimento das ciências pedagógicas para o ensino superior. As universidades moçambicanas, assim como a maioria das africanas, seguem um paradigma ocidental, europeu, no qual o docente de ensino superior pode ser, ao mesmo tempo, um investigador cientÃfico. Dessa forma, coloca-se um pouco de lado a questão da pedagogia. Vimos que essa preocupação das universidades latino-americanas é extremamente importante para nós. Sentimos, cada vez mais, que só a transmissão da ciência não é suficiente para transformar as universidades em atores no processo de ensino e aprendizagem e no desenvolvimento de recursos humanos para o paÃs. Hoje, a Universidade Politécnica considera importante criar condições para estabelecer seus primeiros cursos de pós-graduação em pedagogia.
Isso deve acontecer em quanto tempo?
Nossa ideia é primeiro lançar essa discussão e consolidá-la. Estive com o reitor da Universidade Eduardo Mondlane e o da Universidade Zambeze, que são as grandes universidades de ²Ñ´Çç²¹³¾²ú¾±±ç³Ü±ð, ambas públicas. Todos comungamos da ideia de que podemos estabelecer uma rede de ações que podem acontecer em qualquer uma dessas universidades, desde que estejam abertas a todos os docentes das universidades moçambicanas. Isso atenderia à necessidade que o ensino superior tem de docentes formados também em pedagogia.
Como foi tratada a questão do intercâmbio entre universidades de lÃngua portuguesa no último encontro anual, em Portugal?
Achávamos que poderÃamos ter menos estudantes ingressando do que em 2014 e 2015. Isso não aconteceu. Pelo contrário, os números aumentaram, o que é uma boa notÃcia para nós.
O encontro de Lisboa segue a dinâmica da CPLP, a Comunidade dos PaÃses de LÃngua Portuguesa, atualmente presidida pelo Timor Leste e que deve passar para o Brasil em julho. Tem se discutido muito, na CPLP, sobre a importância do reconhecimento mútuo da titulação acadêmica, da mesma forma que se discute a circulação de pessoas e bens nessa comunidade. Só que as universidades têm velocidades diferentes. As portuguesas e brasileiras têm uma pujança que as africanas e as do Timor Leste não têm. Entre as africanas, as moçambicanas e angolanas também diferem das de Guiné-Bissau, São Tomé e Cabo Verde. Em Lisboa, reforçamos a ideia de que a cooperação bilateral não é benéfica quando há universidades muito poderosas e outras mais frágeis. Se trabalhássemos em rede em uma plataforma, a transferência de conhecimento e a circulação de docentes e estudantes traria um equilÃbrio maior para responder aos interesses defendidos politicamente pelos dirigentes das comunidades de lÃngua portuguesa. No Timor, vamos discutir em que fase estamos na cooperação universitária e no financiamento das universidades. Outra discussão é a de que todos os paÃses de lÃngua portuguesa têm interesse em temas sobre o mar. Todos nós temos alguma coisa para dizer sobre o mar: história, geoestratégia, polÃtica, pirataria, tráfico no comércio internacional. Ficamos de refletir sobre como vamos trabalhar essa questão.

Quais intercâmbios já foram realizados com universidades de outros paÃses?
No Brasil, durante o governo Lula, determinou-se que no ensino fundamental fossem ministradas aulas de história e de cultura da Ãfrica. Só que as universidades e as escolas estavam despreparadas, porque não havia recursos humanos para isso. Então o governo Lula criou a Unilab, no Nordeste do paÃs. Essa universidade é a encarregada de manter a presença da Ãfrica no ensino brasileiro, e recebe uma porcentagem de alunos africanos. Aliás, todas as universidades brasileiras têm desenvolvido programas de graduação e pós-graduação relacionados a estudos africanos. Nós estabelecemos um protocolo de colaboração com a Unilab e estamos, neste momento, preparando uma delegação que vai visitar o Brasil para um intercâmbio de conhecimentos atualizados sobre a Ãfrica. Fizemos também convênios com outras universidades brasileiras e portuguesas. No Brasil, temos parceria com a Universidade de São Paulo, a PUC [PontifÃcia Universidade Católica] de Minas Gerais e a do Rio de Janeiro e a Universidade de Franca. Isso envolve tanto a vinda de docentes para ministrar nossos cursos de pós-graduação como de estudantes de mestrado e doutorado. Esses estudantes, além de poder participar de seminários, têm a obrigação de dar algumas aulas nos nossos cursos de graduação, para ter melhor contato com a nossa realidade. Nos concursos para carreira docente, estamos recebendo agora uma catedrática da Universidade de Franca que vem participar da banca de promoção de um professor associado da nossa universidade. Com as outras universidades, há bolsas, temos enviado nossos estudantes para fazer uma parte do curso de graduação no Brasil, especialmente em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro. Isso significa que existe um intercâmbio muito intenso. Em Portugal, temos convênio com o ISCTE (Instituto Universitário de Lisboa), a Universidade de Coimbra e a Universidade de Lisboa, que essencialmente nos enviam docentes para dar aulas nos cursos de mestrado.
Há convênios com universidades que não sejam as da comunidade de lÃngua portuguesa?
Fizemos um intercâmbio, que vai se encerrar agora, com a Universidade de Cranfield, da Inglaterra, sobre gestão de desminagem. Promovemos várias ações de formação de gestores do processo de desminagem em Angola e ²Ñ´Çç²¹³¾²ú¾±±ç³Ü±ð. Tivemos também uma parceria com uma universidade sueca, de Groningen, essencialmente para transferência de conhecimento. Eu mesmo fui enviado como professor visitante à Universidade de Lecce, na Itália, para dar aulas de literatura africana, e depois eles vieram a ²Ñ´Çç²¹³¾²ú¾±±ç³Ü±ð. Mas são ações esporádicas. A Usaid [Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional] financiou uma universidade americana que bancou o desenvolvimento da nossa °ùá»å¾±´Ç e desenvolveu conosco ações relacionadas a saúde e nutrição, como as que envolvem problemas com desnutrição e Aids. O projeto está acabando, mas a universidade manterá a °ùá»å¾±´Ç e a formação que nos deu. Foi um projeto extremamente importante para nós, nos deu essa projeção.

O que é o projeto de altos estudos na área bancária?
Estamos aproveitando o know-how de um quadro muito importante na área bancária, o doutor João Figueiredo, fundador do Banco Único, que se predispôs a promover esse curso. Também assinamos um protocolo de cooperação com a Fundação Dom Cabral, de Belo Horizonte, para promover o curso de altos estudos para quadros executivos, técnicos e dirigentes da banca moçambicana. É um curso que visa, essencialmente, promover o conhecimento de como funcionam bancos do Brasil e de ²Ñ´Çç²¹³¾²ú¾±±ç³Ü±ð. Parte do curso é realizado em ²Ñ´Çç²¹³¾²ú¾±±ç³Ü±ð, com a vinda de profissionais brasileiros para dar aulas, e na outra parte um grupo de 15 pessoas irá ao Brasil para visitar os bancos e interagir com as operações brasileiras. Portanto, no momento, esse é o maior projeto que estamos colocando em prática.
Que benefÃcios esse curso traz?
Há três benefÃcios: na área de administração bancária, na execução de serviços e produtos bancários e na formação do quadro de bancários no paÃs. Para nós, isso tem um poder multiplicador. Mais tarde poderemos retornar à banca moçambicana os efeitos desse curso. Por isso consideramos esse projeto tão importante.
A universidade vai inaugurar um novo edifÃcio?
Sim. A universidade foi fundada em 1995, em Maputo, e em 1998, por pressão polÃtica e social, fomos convidados para nos estabelecer em Quelimane, na provÃncia da Zambézia, uma das maiores de ²Ñ´Çç²¹³¾²ú¾±±ç³Ü±ð. Fomos a primeira instituição de ensino superior a se estabelecer lá. Neste ano comemoramos 18 anos na Zambézia e vamos inaugurar um edifÃcio que nos custou cerca de US$ 4 milhões. É um orgulho para nós, porque é o primeiro edifÃcio educacional a ser construÃdo na provÃncia da Zambézia, e foi erguido pela iniciativa privada.

Qual é o panorama da universidade neste ano?
²Ñ´Çç²¹³¾²ú¾±±ç³Ü±ð, neste ano, passa por alguns problemas na economia. Quando preparamos o inÃcio do ano letivo, estávamos com uma percepção pessimista. Achávamos que poderÃamos ter menos estudantes ingressando do que em 2014 e 2015. Isso não aconteceu. Pelo contrário, os números aumentaram, o que é uma boa notÃcia para nós. Significa que as famÃlias acreditam na nossa instituição e continuam a apostar no ingresso de seus filhos aqui. Outra aposta nossa é o ensino a distância, porque ²Ñ´Çç²¹³¾²ú¾±±ç³Ü±ð, sendo um paÃs muito vasto, não consegue atender a toda a demanda por ensino superior. O ensino a distância também está se consolidando na nossa instituição: teve aumento no número de estudantes, de 350 para 700.
Quais cursos fazem mais sucesso?
Os alunos que procuram nossos cursos a distância são professores que estão no campo ou no interior e não têm condições de frequentar uma universidade presencial. Também há funcionários públicos que estão espalhados pelo paÃs, onde não há ensino superior, e pequenos empresários. São pessoas das áreas de ±ð»å³Ü³¦²¹Ã§Ã£´Ç, administração pública, recursos humanos e gestão.
Qual é a perspectiva de desenvolvimento econômico do paÃs?
Estamos em um momento de choque, porque os problemas de natureza polÃtica não estão resolvidos. Por um lado, parece haver uma vontade muito grande de solucioná-los definitivamente. Por outro lado, ²Ñ´Çç²¹³¾²ú¾±±ç³Ü±ð não é um paÃs exposto ao choque do petróleo, sua economia não depende disso, portanto o paÃs pode perfeitamente sobreviver à queda do preço do petróleo, que afeta paÃses como Angola. Ainda há a questão do carvão e o gás. Houve um grande desvio de atenção para enxergarmos essas duas áreas como o futuro da economia de ²Ñ´Çç²¹³¾²ú¾±±ç³Ü±ð. Essa crise veio nos alertar para diversificarmos nossas atividades econômicas. Assim, poderemos ultrapassar as crises apesar dos choques do gás e do carvão que estão acontecendo no cenário internacional. Sendo resolvido o problema da crise polÃtica e monetária que estamos passando, ²Ñ´Çç²¹³¾²ú¾±±ç³Ü±ð pode perfeitamente sobreviver economicamente.